dilluns, 5 de maig del 2008

Fogar



Estas últimas semanas os meus dias têm sido de um silêncio formosíssimo. Havia tanto tempo...

Havia flores que precisavam de luz.

Lembro uma rosa.

Lembro uma língua.

Lembro a música de uns violinos alegres nos olhos da Llucía. Observar os olhos dela era observar todos os olhares possíveis.

Aquela noite eu resgatara um velho sonho do fundo do meu coração. Finalmente, o meu sonho fora cumprido. Ali estava eu, no lugar exacto em que a flor pronunciava o meu nome numa língua impossível. Naquele instante, comecei a falar na língua da flor. Era eu. Eu era o rosto do silêncio que aprende a falar com palavras sem voz.

Havia tempo e lugares que tudo caíra numa vertigem de ódio como num holocausto nazi. Nunca pude perceber tanta loucura. Aquela dor era o início da morte, a doença da Terra, um ruído inflexível de proporções ilimitadas, mas eu era alegre no fundo do meu ser como um pardal livre que guarda sempre um sorriso.

Tiveram de passar os dias, as semanas, os meses, as sete estações do amor, para chegar ao lugar em que a vida resgata a linguagem entre os cascalhos da morte. Tudo mostrou que o tempo nunca existira, pois eu chegara ao lugar onde sempre tinha estado, e os dias, ultrapassando as sombras, confluíram num jardim em que uma criança olhava em silêncio o ritmo com que as flores cresciam. Era eu. Eu era o instante em que a chuva se faz de carícias, a praça se enche de luz, uma mulher morena abraça o meu corpo num dia de Março, e há uma casa aberta como um planeta vivo que luta por não morrer.

Estas últimas semanas a liberdade tomou um novo corpo. Lembro ter saído à rua absolutamente absorto na realidade, observando o meu próprio olhar, reparando na vida em cada lugar, em cada instante. Algumas vezes observo ir e vir as pessoas desde o lugar em que o tempo não existe. Ninguém repara em ninguém. Só as crianças, no instante em que as fadas falam, reparam em mim, e é então quando alguma criança sorri a mostrar um brinquedo e fazendo algum gesto de maneira sorridente. Mas de resto, ninguém repara em ninguém, como dizia. O ritmo estabelece-se em função de horários precisos, de limites herméticos, de cadernos sem luz. Eu observo o céu e a proximidade da chuva, e as crianças têm um olhar sobre as cousas que me lembra uma aldeia. Nas últimas semanas a liberdade adquiria a minha linguagem até me apoderar por completo, pintando os meus dias de silêncio, falando num idioma horizontal semelhante a um cavalo, parecido com uma planície aberta, como umas mãos extasiadas.


*****

Aquestes últimes setmanes els meus dies han estat d'un formosíssim silenci. Feia tant de temps...

Hi havia flors que necessitaven la llum.

Record una rosa.

Record una llengua.

Record una música de violins alegres als ulls de la Llucía. Observar els ulls d'ella era observar totes les mirades possibles.

Aquella nit jo vaig rescatar un vell somni del més profund del meu cor. Finalment, el meu somni es va fer real. Allà m'hi havia en, al lloc exacte en el qual la flor pronunciava el meu nom a una llengua impossible. En aquell instant, vaig començar a parlar a la llengua de la flor. Era jo. Jo era el rostre del silenci que aprèn a parlar amb paraules sense veu.

Feia temps i llocs que tot havia caigut en un vertigen d'odi com en un holocaust nazi. Mai no vaig poder entendre tanta bogeria. Aquest dolor era el principi de la mort, la malaltia de la terra, un soroll inflexible de proporcions il·limitades, però jo era alegre en el fons de meu ser com un pardal lliure que guarda sempre un somriure.

Van haver de passar dies, setmanes, mesos, les set estacions de l'amor, per arribar al lloc on la vida rescata la llengua entre en les restes de la mort. Tot va mostrar que el temps mai no havia existit, doncs jo havia arribat al lloc on sempre vaig estar, i els dies, anant més enllà de les cortines, van arribar en un jardí on un nen mirava en silenci el ritme amb què les flors creixien. Era jo. Jo era l'instant en què la pluja es fa de carícies, la plaça s'omple de llum, una dona morena abraça el meu cos un dia de març, i hi ha una casa oberta com un planeta viu que lluita per no morir.

Aquestes últimes setmanes la llibertat va prendre un nou cos. Record haver sortit al carrer absolutament absort en la realitat, observant la meva manera de mirar, observant la vida en cada lloc, en cada instant. Algunes vegades observo anar i venir la gent des del lloc en el qual el temps no existeix. Ningú no veu ningú passar. Només els nens, en l'instant en què les fades parlen, reparen en mi, i és llavors quan un nen somriu mostrant alguna joguina i fent algun gest de manera somrient. Però ningú no veu passar a ningú, com ja he dit. El ritme s'estableix en funció d'horaris exactes, de límits hermètics, de quaderns sense llum. Observo el cel i la proximitat de la pluja, i els nens tenen una mirada sobre les coses que em recorda un llogarret. En aquestes últimes setmanes la llibertat ha pres el meu llenguatge fins a abraçar-me per complet, pintant els meus dies de silenci, parlant a una llengua horitzontal similar a un cavall, semblant a una plana oberta, com unes mans extasiades.

3 comentaris:

  1. Efectivamente, meu caro amigo, padecemos de uma notável cegueira nestes tempos para, simplesmente, olhar. Olhar, isso sim, com toda a intensidade que a vida nos outorga para nos perceber como o que somos: parte da imensa luz (por chamá-la de alguma maneira) que luta por fazer-se reconhecer por nós em forma de ser amado, de criança, de árvore ou de poema.
    E nós a fugir dos espelhos onde se agranda o nosso ser até confundir-se com o sol interior que acompanha os passos da memória, diria que mesmo da memória do futuro presente em todos os minutos da existência.
    Como dizia um grande amigo, o ser humano sempre recusa aceitar que o mais importante já lhe vem dado: e nesse erro vagamos na maior parte da nossa vida, infelizmente, até que "um silêncio formosíssimo, uma rosa, uma língua ou um olhar de criança" nos devolve o alimento para desenvolvermos o verdadeiro trabalho: a libertação do nosso coração múltiplo como o universo. Quiçá o único fogar ou pátria real.
    Não achas, meu?

    Saúde, amigo.

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  2. Hola Xavier,
    Son Carol, non sei se te lembrarás de min. Amiga de José Antonio, o teu irmán. Pois nada que recibindo a información do Bloque cheguei ate a tua bitácora. Guau! Realmente merez a pena ler o que escribes, non si? Alédome moito de saber de ti, Galiza precisa de xente así. Así que escritor! A ver si cando volte boto man dalgún dos teus libros. Polo que vexo aquí vou gostar deles. Eu quedeime en neurocientífica así que o meu galego non é tan fermoso coma o teu. Graciñas!
    Un saúdo dende California a piques de voltares.
    Bicos (arrainos dot informacion at gmail dot com)

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  3. Prezado Ramiro, prezada Carol:

    Desculpai a demora em responder os vossos comentários. Passei uns dias doente e com pouca vontade de escrever nada, nomeadamente na internet. À Carol direi-lhe que sim me lembro dela, bastante bem, e devo dizer-che, Carol, desculpando a minha demora em escrever, que tampouco tenho estado muito nos últimos tempos ao pé deste caderno que chamo "mapa de dias". Aliás, tenho estado a pensar em fechá-lo. Às vezes é preciso fechar um livro para poder abrir outro, outros, fechar uma etapa para reabrir pombas e luzes e sonhos. Contudo, estou nessa escada tão habitual em que um não sabe se subir ou baixar, ou isso polo menos é o que dá a entender a si próprio também. De facto, há demasiadas cousas agora como para poder ter tempo, vida, para escrever de mim, e talvez isto só seja uma escusa (real) para calar, pois o silêncio é tão reconfortante e agradável que se torna às vezes necessário como voar, intenso como viver, precioso como uma rosa sobre as nuvens da manhã.

    E porque olhar, caro Ramiro, se torna necessário, é preciso o silêncio, um silêncio, como dizia, precioso. Porque se faz necessário enfrentar-se aos espelhos e reconhecer a verdade, os passos da memória e os passos do presente que nos encaminham para o futuro que já é.

    Porque toda existência é fugaz.

    Mas lamento não poder ter dedos expressivos nos últimos tempos. Ando com problemas físicos nas minhas mãos (e os meus dedos estão delicados) que ainda não se resolveram e que já se fizeram crónicos. Por isso dói escrever, entre outros motivos, ainda que deva fazê-lo algumas vezes. E encontro-me nesse dilema entre a dor e o trabalho da escrita, entre a vida e a reflexão sobre a própria vida, amor e prazer, vontade e morte, observação e expressão.

    Ramiro, adorei essas palavras a respeito do mais importante que temos na vida, e sobre como isso já nos vem dado. É mesmo assim. Gosto do que fazes com as palavras. Iluminas o contorno da língua, amplificas o seu cerne, sorris.

    Acho, sim, que essa é a nossa única pátria real: a verdade que a vida é sobre o limite dos dias, a vida pairando na luz sobre as últimas pombas. A pátria será sempre isto que nós somos, a única identidade real, a consciência do que a própria vida é, do que nós somos. No caminho que se retroalimenta de vida estamos, rodeados doutros espelhos que confundem a visão dor eal e amplificam a mentira. Por isso é necessário sorrir, porque só do silêncio que provém do verdadeiro sorriso pode chegar o amor.

    Carol, lembro-me bem de ti. Bem-vinda a este lugar e, desculpa, como dizia, a demora em responder. Se merece a pena ler o que escrevo será cousa que eu não sei se devo dizer. Dependerá da pessoa leitora. Aliás, eu não sei mesmo. Depende. Como tudo na vida, sempre depende. Que querias que respondesse? ;-) Isso de seres neurocientista parece interessante. Não gosto muito da crença na ciência (a religiosidade cientista), que não na ciência, mas é um campo em certo modo bem interessante esse em que trabalhas. Já me contarás algumas cousas a respeito. Espero que sim. O Galego é formoso em si mesmo, é só irmos descobrindo toda a sua beleza, como com tudo. Ela -a beleza- sempre está aí. As pessoas que escrevemos não somos na verdade criadoras de texto, mas descobridoras. Descobrimos entre as possibilidades infinitas da língua possibilidades que escolhemos porque gostamos de algum modo delas. Não há mérito em descobrir, há um imenso porvir, o futuro que já somos. Descobrir é a identidade que somos, vida que se amplifica sobre o porvir dos dias. Mas agradeço as tuas palavras. Muito. Como o facto de entrares numa casa que é também tua. Gosto de que contactasses comigo desde a Califórnia. Ao voltares, ou antes, ou quando quiseres, dá notícias.

    Um abraço para ambos.

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