Homenagem de Google a Chagall hoje 7 de Julho.
MARC CHAGALL
(Vitebsk, Bielorrússia, 7 de Julho de 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 28 de Março de 1985)
MARC CHAGALL
(Vitebsk, Bielorrússia, 7 de Julho de 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 28 de Março de 1985)
A MORADA INFINITA
Longe é um lugar dentro de mim.
M. V.
M. V.
O lugar o espaço a curva da misteriosa vida
Nós morávamos livres morávamos sobre os campos morávamos sob estrelas que nunca confundiram o seu gesto
O nosso idioma era azul as nossas mãos precipícios, esta luz que não falta era a nossa luz
E caminhávamos simples como cavalos formosos pola planície lilás, caminhávamos sem rumo sem atingirmos nada, à espera das flores que não existem
Eu olhei para ti e fiz-te uma pergunta. Não lembro bem que nome tínhamos naquele lugar, qual era o nosso rosto nem quais eram os nossos conhecimentos sobre o mundo. Perguntei, e tu, calando, respondeste. Éramos órfãos, e caminhámos cegos durante cinco longas estações da mão da verdade e das cousas mais simples.
E agora que abro portas e janelas, agora que canto e calo, agora, digo, sinto o meu corpo triste e os meus olhos alegres. Tenho a dor dentro dos meus dedos, tenho a luz dentro do meu silêncio. O meu peito está morto o meu peito está morto, mas canto, neste silêncio de inúmeras palavras, aprendendo o nome das rosas e das pombas, a idade das praças e das ruas.
Digo cada dia o teu nome, o nome teu que escuto em búzios que não existem onde os teus olhos se multiplicam e eu navego por um mar de sonhos e de versos.
Vou cada dia ao mar.
Por isso, polas palavras que nunca disse e polas que sempre estarão comigo, na escuridão de cada noite, entre estrelas e trevas, entre sonhos e sombras, por isso rego com luz de amor uma rosa que cresce sempre no lugar onde a vida pronuncia o teu nome. Para que sempre me acompanhes ainda que estejas longe. No lugar onde tudo é um imenso tu.
Nós morávamos livres morávamos sobre os campos morávamos sob estrelas que nunca confundiram o seu gesto
O nosso idioma era azul as nossas mãos precipícios, esta luz que não falta era a nossa luz
E caminhávamos simples como cavalos formosos pola planície lilás, caminhávamos sem rumo sem atingirmos nada, à espera das flores que não existem
Eu olhei para ti e fiz-te uma pergunta. Não lembro bem que nome tínhamos naquele lugar, qual era o nosso rosto nem quais eram os nossos conhecimentos sobre o mundo. Perguntei, e tu, calando, respondeste. Éramos órfãos, e caminhámos cegos durante cinco longas estações da mão da verdade e das cousas mais simples.
E agora que abro portas e janelas, agora que canto e calo, agora, digo, sinto o meu corpo triste e os meus olhos alegres. Tenho a dor dentro dos meus dedos, tenho a luz dentro do meu silêncio. O meu peito está morto o meu peito está morto, mas canto, neste silêncio de inúmeras palavras, aprendendo o nome das rosas e das pombas, a idade das praças e das ruas.
Digo cada dia o teu nome, o nome teu que escuto em búzios que não existem onde os teus olhos se multiplicam e eu navego por um mar de sonhos e de versos.
Vou cada dia ao mar.
Por isso, polas palavras que nunca disse e polas que sempre estarão comigo, na escuridão de cada noite, entre estrelas e trevas, entre sonhos e sombras, por isso rego com luz de amor uma rosa que cresce sempre no lugar onde a vida pronuncia o teu nome. Para que sempre me acompanhes ainda que estejas longe. No lugar onde tudo é um imenso tu.
Morada infinita para nos conter em mãos demoradamente libertadoras, orientando-nos ao nada grávido de vida em forma de "um imenso tu" que nos atravessa e despe, desocultando o que nos faz ser.
ResponEliminaGrande Marc Chagall, no formoso trabalho de deixar ocupar a luz os seus quadros, tão aparentemente singelo, mas onde talvez for precisa a irradiação de toda a sua existência, verdade?
É verdade. A irradiação luminosa de que falas transparece de maneira simples nos quadros de Chagall. A mim deslumbra-me sempre. Permanece em mim o amor, a beleza referida por Chagall. Canto e danço como se pertencesse a um dos seus quadros. Às vezes gostaria de saber tocar violino ou de sorrir como uma mulher occitana do século XIV.
ResponEliminaA morada infinita de que falo é a vida, como imagino que terás reparado, amigo Ramiro. Toda beleza da amada provém do seu silêncio, da maneira em que ela me ensina o seu idioma, pacientemente, porque no amor a paciência da aprendizagem é a beleza primeira e última, a capacidade para escutar inclusive o próprio silêncio da amada, sentindo no seu rosto, na sua voz, nos seus dedos, toda a vida, toda a intensidade com que se pode amar, sem limites de tempo, sem espaços imaginados.
Chagall é para mim o grande poeta da pintura. Por acaso, ele tem muita importância na minha relação com a poesia, à que me achego como ele entendia o amor e a arte. A arte de Chagall tem abençoado a minha vida, criando uma estrutura luminosa que nunca antes teria podido imaginar. Chagall faz parte da minha visão da vida, da poesia, do amor. Se tivesse que destacar uma das minhas influências, uma das minhas inspirações constantes, para aquilo que escrevo, diria Marc Chagall. A luz dos quadros de Chagall é para mim uma verdadeira luz que me ilumina no meu dia-a-dia. Chagall faz com que a palavra ternura adquira um significado multiplicado sobre si mesmo.
Tenho saudades de ti, Ramiro. Um dia destes, telefono-te e combinamos. Beijos e abraços. Reparte à vontade entre quem tu sabes.
A MARC CHAGALL
ResponEliminaÂne ou vache coq ou cheval
Jusqu'á la peau d'un violon
Homme chanteur un seul oiseau
danseur agile avec sa femme
Couple trempé dans son printemps
L'or de l'herbe le plomb du ciel
Séparés par les flammes bleues
de la santé de la rosée
Le sang se irise le coeur tinte
Un couple le premier reflet
Et dans un souterrain de neige
la vigne opulente dessine
Un visage aux lévres de lune
Qui n'a jamais dormi la nuit.
PAUL ÉLUARD
A MARC CHAGALL
Asno ou vaca cavalo ou galo
Até à pele de um violino
Homem cantor um só pássaro
Dançarino ágil com sua esposa
Casal mergulhado na sua Primavera
O ouro vegetal o chumbo celeste
Separados polas chamas azuis
Da saúde do orvalho
O sangue irisa-se o coração tilinta
Um casal o primeiro reflexo
E num subterrâneo de neve
A vinha opulenta desenha
Um rosto com lábios de lua
Que nunca dormiu à noite.
PAUL ÉLUARD
(Tradução para o Galego feita por Xavier Vásquez Freire)