diumenge, 31 de desembre del 2006

No coração do dia

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ERICH FROMM
O amor é feito de claridade
JOSÉ LUIS PEIXOTO

No coração do dia a memória recita um poema meu na voz de um rapaz de cinco anos chamado Daniel. O pequeno Daniel recita um verso que atravessa o infinito, um poema para tocar a forma do amor, para quebrar o medo e apagar as sombras e desfazer os nós que se formam no estômago e que a vida oferece para fazer com que cresçamos no centro da esperança e da luz. No coração do dia o meu amor à vida acarinha os meus lábios e pronuncia o teu nome.

Não existem distâncias, não existe o medo, não existem as fronteiras que nós criamos. Nada do que o eu pensa é real, nem a própria ideia do eu, nem a própria ideia da vida. Todo pensamento faz parte do imaginário artificial que cristalizamos. Toda ideia é a expressão de um conflito. Amar não é feito de ideias. Não existem ideias dentro do amor. O amor é feito de claridade. Existe esse foco infinito, intenso, verdadeiro.

Nos últimos tempos o foco era especialmente único, era alto, imenso, brilhante, mas era simplesmente único, não estático porque estava em contínuo movimento, e brilhava nele a calma das primaveras e das pombas no devir dos dias de Outono. A queda das folhas tocou a parte mais interna de mim, provocando feridas tristes nas minhas costas e nos meus olhos, desvirtuando as horas e o sono, apagando a forma da minha escrita, convertendo a verdade em espera, o amor numa sombra. Mas chegou Inverno alegre e pequeno como esse pardal abensonhado que sempre está a voar no meu peito, o pardal que eu esquecera. Mas veio Inverno alegre e chegaram múltiplos focos: a memória sempre tão querida do Daniel, a força desbordada da voz emotiva do Ghjuvan Francescu, o Rubén a oferecer-me o seu primeiro romance, a ternura do Jesús e a sua alegria contagiosa, a forma em que a Miriam me faz sorrir no trabalho, as palavras e os silêncios do Óscar, a profundidade do seu olhar, os abraços e a voz do Ánchel, a minha escrita a fazer-me cócegas nos meus dedos, a sabedoria do J.C. a levar-me do interior de uma sombra ao cimo de um sorriso, a conversa e o carinho do Pedro e mais do Ramiro, as estrelas que acompanham sempre a minha volta a casa, a forma em que a vida ilumina os meus dias e este idioma que amo, este idioma que amo.

Por isso agora acarinho a expressão silenciosa dos meus olhos, o meu sorriso de Inverno alegre, agora ando a sentir cada instante por vir, sorrindo dentro de mim, sentindo a delicada ternura com que escuto o som das ondas do mar numa praia longínqua enquanto escrevo num caderno vermelho as palavras que agora escrevo, acarinhando a forma de mim que ainda desconheço.

No coração do dia, a vida atravessa os meus dedos.

4 comentaris:

  1. Obrigado, caro amigo, pelas palavras.
    E encantado de partilhar contigo este caminho.

    Saúde e feliz ano.

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  2. Obrigado eu, Ramiro.

    Não imaginas o que as tuas palavras fazem em mim. Elas têm a forma da calma necessária, a textura de um abraço.

    Muita saúde, muita poesia e um ano alegre e consciente da beleza da vida.

    É necessária essa intensa liberdade.

    Um abraço e 2007 sorrisos

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  3. Um abraço, consciente da verdade de afinal não haver verdade nenhuma, a não ser esse amor.

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  4. Pedro, recolho o teu abraço e multiplico-o por 2007.

    Obrigado.

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