diumenge, 26 d’agost del 2007

POEMA

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POEMA

Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz,
te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz,
voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago y cintas que dormían en la lluvia.
No quiero que tengas una forma, que seas precisamente lo que viene detrás de tu mano,
porque el agua, considera el agua, y los leones cuando se disuelven en el azúcar de la fábula,
y los gestos, esa arquitectura de la nada,
encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.
Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo,
pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco con ese pelo lacio, esa sonrisa.
Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino es también la luna y el espejo,
busco esa línea que hace temblar a un hombre
en una galería de museo.

Además te quiero, y hace tiempo y frío.


POEMA

Amo-te por celha, por cabelo, debato-te em corredores branquíssimos onde se jogam as fontes da luz,
discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou pondo-te no cabelo cinzas de relâmpago e fitas que dormiam na chuva.
Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que vem detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo as suas lâmpadas a metade do encontro.
Todo amanhã é o quadro onde te invento e desenho,
pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco com esse cabelo macio, esse sorriso.
Procuro a tua soma, o bordo do copo onde o vinho é também a Lua e o espelho,
procuro essa linha que faz tremer um homem
numa galeria de museu.

Além disso, amo-te, e está tempo e frio.


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JULIO CORTÁZAR
(Bruxelas, 26 de Agosto de 1914 - Paris, 12 de Fevereiro de 1984)
(Tradução do poema para o Português por Xavier Vásquez Freire)

4 comentaris:

  1. Como uma boa cronopiada temos a "Imagen de John Keats", onde o grande argentino (no físico e no literário) dialoga, mais de um século pelo meio, com o poeta inglês.
    Vejo também que a tua mão recuperou a capacidade de tocar estrelas e fazê-las cair na aranheira, do qual me alegro imenso.
    Saudações apardinhadas.

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  2. Obrigado polas tuas palavras, Ramiro. Lamento desiludir-te, meu caro amigo. Continuo com tendinite nas duas mãos, razão pola qual me resulta muito doloroso literalmente escrever, e em geral usar as mãos para qualquer cousa (mas escrever resulta especialmente doloroso, razão pola qual doso a minha escrita). Dentro disso, a mão direita (que é a que mais uso, infelizmente) está pior do que a esquerda, mas procuro não escrever demasiado. Boa mostra disso é o facto de seguir bastante separado da escrita, que não da vida. Mas não quis deixar de homenagear o maravilhoso Julio Cortázar, grande escritor de quem se desconhece de um jeito geral a sua enorme poesia devido ao facto de se reparar amiúde muito mais na sua espectacular obra narrativa.

    Recolho as tuas saudações apardinhadas e reintegro-tas multiplicadas à maneira em que as crianças constroem sorrisos.

    Beijinhos para a Isa e a Alba.

    Muita vida, observação e poesia.

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  3. é esse fim o que estremece, após renegar da forma, do elemento físico, indo às pressas quase face à inconsistente presença do que apenas é imaginado. mas essa volta final, essa confirmaçom singela, abandonada de todo recurso de estilo e, porém, tam imensamente lírica, tam imensamente funda e larga e longa, todo isso é o que fai do poema umha estrela, como diz o Ramiro. Parabéns, Xavier, por oferecer estrelas, e parabéns a ambos pola amiçade sincera que vos dedicades: como o poema, também ela emociona.

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  4. A vida: esse mistério azul.

    O emocionado sou eu, Óscar, o silencioso, o sincero, o nocturno.

    A comoção do mar é em mim como uma pomba no céu.

    Mas eu apenas sei sorrir, apenas sei tirar do céu o reflexo das estrelas de que falais, apenas sei sonhar e observar a vida, apenas sei transparecer o que eu sou, apenas sei ficar a olhar tudo e avançar devagar com as mãos feridas e o coração silencioso.

    Por isso e por todos os motivos da acção criadora que somos, lamento as pontes destroçadas, os dominadores das sombras, os ditadores do medo, a hipocrisia crescente: o orgulho e o seu domínio cruel perante o Nada que avança.

    Por isso eu sei que é preciso aprender a viver constantemente, de instante em instante, observando cada momento como se fosse o primeiro e o último. Aprender.

    Mas sei também do movimento com que os meus olhos se elevam e calam. Calam humildemente perante a dor e a loucura e sentem a dor alheia como se fosse a própria dor. Sentem a dor avançar e os que a criam a olharem para outro lado e a danarem o Mundo, a sujarem a Vida desde uma torre de crueldade.

    Também as tuas palavras me comovem, Óscar. Muito mais do que nunca poderias imaginar, e as lembranças de ti: as mais próximas como as mais afastadas. Ainda tenho a sensação de te estar a mostrar a maravilhosa vista da Corunha e o mar ao fundo e também em primeiro plano há uns dias em Boidecanto, e nós a falarmos da vida, do futuro e de outras cousas em comum. Também me comove aquela imagem de nós sentados na erva a olhar para o Sol a atravessar as nuvens para criar a ardentia solar nas águas marinhas.

    Eis a beleza: a humildade e o próprio processo activo da sinceridade que convoca, e convida, a vida para ela brilhar, como as estrelas de que falas.

    Também tu me comoves.

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