dimarts, 18 de desembre del 2007

O aniversário

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"L’Anniversaire" Marc Chagall


Yo ya sé que de amarte nunca se regresa.

EMILIO PEDRO GÓMEZ

Escucho tu silencio. Oigo constelaciones: existes. Creo en ti. Eres. Me basta.

ÁNGEL GONZÁLEZ


De ti chegavam palavras que nunca tinha ouvido, chegava de ti o sotaque do mar, o ritmo com que as estrelas embalam os meus sonhos. Eu lembrei então os teus olhos no interior de Dezembro: tu eras aquela moça com que eu sonhara em criança. Estavas ali, imensa e diminuta como o teu próprio nome: eras tu. Era o teu corpo a praça, o céu, as estrelas, uma ponte sonora de palavras e de risos.

Eu era alegre, alegre como os teus olhos inaugurando a primavera perene no coração do frio de Dezembro. Ali aprendi a amar-te, debruçado e sincero sobre a vida: era eu. Tocando os teus joelhos descobri o meu próprio ser. Tocar-te foi a forma de regressar ao abismo, de voar no interior de um sonho, de desenhar um búzio vermelho no interior do meu peito.
 
A tarde foi a luz de todas as estrelas unidas entre si. A ideia era unir a minha voz à tua e que a tua voz e a minha fossem apenas uma. Mas tu querias sentir-me falar, tu querias acarinhar esta voz que tanto te amava, que tanto te ama. A tarde foi um verso infinito onde nada falta nem sobra, a tua saia amarela, aquele momento em que tu, chorando de emoção, de beleza, pediste que continuasse. Não pares, disseste, é precioso. E eu continuei, acarinhando as águas de um rio que me levava a ti, enquanto algo dentro de mim se enchia de ti para sempre.

Lembro aquele instante em que tu me perguntaste que era aquilo de que mais gostava de ti, e o difícil que era para mim responder aquela pergunta. Eu não gostava de ti por nada em especial, mas por ti apenas, e só pude dizer aquilo de que mais gostava e gosto: "Tu dentro de ti".

A tarde, os versos, aquela despedida imensa que sempre nos uniria, aquela forma com que tu me falavas e que para mim está tão cheia de beleza, o tacto da tua pele, o meu medo inicial, aquela timidez primeira, aquela chuva nocturna que é a desta noite de Dezembro, a querência, o amor, tu, eu, a vida, todas aquelas cousas regressam a mim para tocar-me de novo e sentir-te ainda em mim como se fosses aquela mulher que amo desde o momento em que acordo cedo cada manhã até ao último instante antes de adormecer.

Por isso, amar-te é saber que nunca haverá morte.

9 comentaris:

  1. Dezembro: mês em que também algo mudou definitivamente em mim. Houve então a entrada no pálpito sereno do infinito: uma chave a retirar certezas de bruma e colocar-me ante a desnudez do meu ser, povoando de sol os lábios do futuro vindo da boca de I.
    E aqui estou agora, 8 Dezembros depois, abrindo ainda as portas do Amor, nascido à necessidade da descoberta, tranquila e voraz, da Vida.
    Semelha que os caminhos paralelos em que fundamos as nossas existências, caro Xavier, confluem também nisto: alegro-me de encontrarmo-nos, mais uma vez, lendo nos olhos das nossas amadas um destino semelhante.

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  2. Ramiro:

    Dezembro é um coração silencioso, o lugar em que um fica em calma e ouve a terra falar enquanto as estrelas dançam sem discurso nem forma nem fundamento de ódio, sem palavras que não signifiquem, com significados que transcendem e geram palavras. Dezembro é sem fim uma mulher mui branca, uma mulher morena de voz de textura infinita. Dezembro.

    Aquela tarde Dezembro tinha a cor dos seus olhos. Uns dias antes entrávamos e saíamos das lojas, sorridentes, indecisos, à procura de uns brincos para a sua irmã. Eu sentia fluir em mim cada uma das suas palavras, cada ritmo, cada entoação, cada sorriso cúmplice, cada silêncio infinito, uma cidade de luz e de extensos campos em flor.

    Lembrei por um instante o seu tacto e reparei em que nunca poderia deixar de amá-la. Então percorri o tempo e não houve medo, ou mais exactamente houve conhecimento do medo, e voar voei no interior de uma luz que acarinhava a vida, e nunca mais o medo cresceu na terra das palavras pronunciadas por mim. Senti que o tempo não existia e observei essa verdade, observei que o medo era apenas a substância que se projectava vazia quando não havia luz, e que o tempo, o medo, a loucura ou a mentira das assassinas e assassinos não poderiam ferir-me.

    Por isso, Ramiro, porque ambos celebramos o Amor e a sua verdade imanente, celebro e canto e sorrio polo vosso amor que criou tão bela criatura nascida na luz do amanhecer.

    Com muitas saudades de vós, um abraço que se triplica e canta sobre a forma da Vida.

    Sorrisos, amigo.

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  3. L'autor ha eliminat aquest comentari.

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  4. Aqui sente-se o prazer imenso do amor, mas nom desse amor de filme, que é falso, estereotipado, mas dum amor sincero e traqüilo, real; dum amor que se assimila à vida e a essa felicidade. Falávamo-lo ontem, lembras Xavier? Quando aquela frase dizia: "esta parte da minha vida chama-se felicidade". Já o diziam os românticos alemães: mais importante do que o momento é a lembrança do momento. Ao final trata-se justamente disso, tanto para o Ramiro, cuja lembrança se expande no tempo, quanto para ti, caro Xavier, que integras o amor pelo próprio amor. Já o disse outras vezes, e seguirei a dizê-lo: passear à luz deste inverno por este caderno ajuda a sentir-se bem porque se respira ar fresco (outros chamam-o amiçade). Parabéns para os dous, por compartirdes essa outra forma de amor e respeito. Emociona.

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  5. Agradeço muito, pela minha parte, as tuas palavras, Óscar. Mas ainda quero acrescentar que não se trata só de expandir essa lembrança no tempo, o qual já é muito, mas também assinalar que estou a falar de algo que afecta mais integra(l)mente ao ser humano. Esse amor, vivificador e que faz unir a outra pessoa de uma maneira muito mais ampla do que se pode expressar sem passar por essa experiência, leva, ou quiçá melhor dito, está relacionado com uma extensão da percepção vital, um notável ancheamento da nossa situação e da nossa capacidade de apreensão da Realidade, guiando-nos por caminhos que nunca até então puderam ser percorridos, em grande parte por serem desconhecidos ou mesmo desprezados pelos poderes interessados na perpetuação do dinheiro e poder como factores fundamentais da sociedade hodierna (talvez a de quase toda a história humana, acrescentaria), com mais ou menos dissimulos e circunvoluções que se deram, dam e darão.
    Bom, indo ao que importa, e como dizia o grande Mário Cesariny no seu verso-poema "Ama como a estrada começa", abre-se em nós uma porta ao infinito presente, a fazermo-nos conscientes da constante reinvenção da existência e a desempanhar todas as nossas capacidades de compreensão dormidas durante tanto tempo, mesmo na vida inteira de muitas pessoas, que nos levam a ver a realidade como o que é: a confluência de todas ruas da cidade no nosso coração faminto de luz alta, agora sem prisões nem armadilhas que valham para a esconder.
    Tudo, pois, se reinventa e inicia nos olhos de quem amamos, mas é, sempre, a primeira das viagens que faremos sem a carga dos deveres e máscaras socialmente aceitados, à procura do nosso destino descobrindo-se em cada passo.

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  6. Tudo, pois, se reinventa e inicia nos olhos de quem amamos, mas é, sempre, a primeira das viagens que faremos sem a carga dos deveres e máscaras socialmente aceitados, à procura do nosso destino descobrindo-se em cada passo.
    R.T.

    Ramiro, retomo as tuas palavras após semanas de silêncio. Por vezes este silêncio tem saudades de ti, por vezes as tuas palavras regressam a mim. E não falo apenas das palavras escritas, mas das que hoje estão tão perto de mim, como um dia estiveram feitas sons bem perto de mim, pois há palavras sorrisos momentos que nunca passam, evidenciando então a inexistência do tempo, que é aquilo que queria referir no meu “ O aniversário”.

    Imagino que saberás que tenho os meus dedos feridos em muitos sentidos, atravessados da dor que o tempo criou para mim, precisamente por ele -o tempo- não existir, e eu, precisamente por isso, tenho preferido calar e calar e calar até o mais absoluto silêncio, embora sempre tenha muita cousa a dizer. Mas foi necessário o silêncio e talvez ainda o é como um pássaro azul, uma luz simples, uma caneta muda, uma fotografia triste,... Foi e talvez o seja ainda, porque o tempo é um estranho que rima com talvez, e eu não tenho todas as respostas, eu não tenho todas as respostas.

    Mas sei, como sei que tu sabes, que as minhas palavras no texto por ti comentado falavam do amor que se eterniza no próprio amor, falavam da não existência do tempo. Talvez os realistas, talvez as realistas, não acreditem nisto que eu digo, não acreditem no amor nem na inexistência do tempo, nem em muitas outras cousas, mas isso não interessa. Eu próprio não acredito nisto que digo, como não acredito no amor ou na própria vida. Aqueles e aquelas que temem precisam de segurar os seus medos, e os medos segurados ao que seja, ideias ou cousas, só conseguem manter-se, perpetuar-se. Para aquele ou aquela que vê, não é necessário crer. Toda forma de crença é um afastamento da realidade. Toda forma de fugida é um extravio da consciência, e a consciência É para Ver, se a consciência É, o seu sentido será a própria visão, mas nunca a fugida. Toda forma de fugida é uma morte, e não há pior assassino ou assassina que o que se mata si próprio, a si própria. E como todos e todas somos vida, o nosso compromisso connosco é permanentemente formoso. Seremos quem de compreendermos a verdade imanente, perpetuamente luminosa e infinitamente simples?

    Abraços e sorrisos de segunda-feira.

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  7. Eis talvez A pergunta. A resposta faz (ou deve fazer) parte da nossa vida.
    Parabéns, Xavier, por este texto tão singelamente veraz. Tão infinitamente simples, como bem sugeres nele.

    Apertas de terça-feira, caro amigo, e obrigado pelas tuas palavras cúmplices. Os caminhos são maravilhosamente paralelos, assim que havemos coincidir em qualquer lugar e momento, para além do trabalho de depuração que, conscientemente ou não, levamos fazendo cada um nas nossas vidas.

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  8. Beijos também para ti, Lully.

    E um sorriso.

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