Havia tempo, lugares, o Sol luminoso, os pardais a desenharem no ar o seu itinerário infinito, havia um sorriso a voar por cima destas palavras, uma criança feliz a descer por um escorrega, havia aquela padaria velha onde eu comprava o pão em criança, milheiros de estradas e infinitos caminhos, havia um relato breve na forma da minha voz. Eu começava a ler Rosalia, Celso Emílio, Federico, Pablo. Lembro um verão em Ferrol, aquela tarde no Porto, a maneira de brincar com o João em Devesela. Havia uns olhos de poeta a tirar fotografias da vida. Eu pedindo-lhe à gente desenhos de pontes, definições da vida, versos de amor que levava presos dos meus lábios, porque tudo aconteceu no tempo horizontal, inclusive o amor, esse amor que era de água, que era de silêncio, inclusive a liberdade. Eu deixei que a morte me tocasse protegido simplesmente da nudez dos meus olhos limpos. Era livre, era feliz. Começava a caminhar, a sorrir. Era eu um sentimento espiral que crescia e crescia. Caí, é certo, caí entre os cristais, aquela tarde em Devesela, partindo a minha espalda, cortando a minha pele, mas desci dentro de mim subindo a uma estrela. Era criança. Tinha 7 anos. Era livre. Era feliz. Havia um idioma que me cuidava. Eu vivia feliz acarinhando esse idioma. Era ele a luz que me amava.
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